16.10.10

TPM




Todo homem deveria, ao menos uma vez na vida, experimentar um período de TPM e regra (adoro falar regra! rs).
10 dias com vontade de matar e ao mesmo tempo abraçar - muitas vezes até a mesma pessoa. Seios inchados, doloridos, pesando uns 15 quilos cada e tendo que enfrentar as mesmas filas, metrô lotado e todos os cotovelos do mundo. A pele que é ressecada vira um sebo e a que é oleosa chega a rachar, de tão seca. O bigode (sim!) cresce, a cabeça dói, as costas e as pernas doem, a libido diminui, a autoestima desaparece. TUDO ISSO ao mesmo tempo, com a vida seguindo normalmente: com filhos, feira, supermercado, depilação, chefe, marido, recenseador, mulher do Yakult, cachorro, vizinha chata, político safado, gerente de banco, telemarketing, jantar por fazer, cama por arrumar, amigo falso, ex namorado, futura sogra, tudo. É um verdadeiro exercício de amor ao próximo sair por aí nesse estado. E então, para fechar com chave de ouro, quando tudo isso acaba e a gente bem que merecia a paz eterna, a remissão de todos os pecados, ainda ganha, de brinde, 5 dias vertendo sangue, cólicas a qualquer momento - seja na reunião mais importante do ano ou naquele trânsito parado -, absorvente que sái do lugar, libido ultrajante bem quando trepar é mais complicado, banheiro de buatchy sem papel higiênico, e por aí vai. São poucos exemplos perto de uma realidade que mais parece um karma eterno por termos mordido a maçã.
Não seria um bom aprendizado, para qualquer homem, um único mês - durante uma vida inteira - como mulher ?


p.s: eu poderia estar matando, mas estou escrevendo esse texto na TPM.

16.12.09

Verrückt





Hoje eu estava cansada demais, fisica e emocionalmente. Sendo assim, tolerância zero.
Aí tive que parar em uma rua bem movimentada do Brooklin, onde não se acha lugar para estacionar. Como era rápido e tô sem grana pra besteira, não quis colocar o carro no estacionamento. Então parei em frente a uma loja, dessas com vagas na frente, afinal eu ficaria dentro do carro mesmo, esperando meu marido, então qualquer problema era só sair.
De repente, aparece um tiozinho e me chama. Tomei um baita susto, porque estava concentrada em um livro e não o vi. Ele veio com um papo que a dona da loja chegaria logo e que costumava ficar muito nervosa com gente parada em frente à sua loja. Questionei, disse que se ela aparecesse eu sairia no mesmo minuto, mas não teve jeito. Ele insistiu - educadamente, diga-se de passagem, mas eu estava irritada - e eu dei uma rezinha, ficando fora da área da mulher, mas na frente da loja ao lado.
Minha cabeça então começou a trabalhar loucamente, sei lá por quê, e eu, que sou boa em A+B, imaginei: Estou no Brooklin, que é bairro tipicamente alemão, na loja da mulher vende Advent Kalendar (um calendário típico alemão, para usar 30 dias antes do Natal. Só sei disso pq morei na Alemanha), o tiozinho foi claro quanto à chatice da mulher. Ela só pode ser alemã, daquelas bem ranzinzas, e toda metida a besta porque é dona da loja.
Dito e feito! Uns 30 minutos depois, um Civic preto para praticamente grudado na lateral do meu carro. Tive certeza de que era a tal. Ela começou a gesticular pra eu sair dali pra ela poder estacionar, só que eu já estava fora da vaga dela, então me deixei levar pelo dia evil. Fiz de desentendida até ela baixar o vidro e falar direito comigo. Com algum esforço pela língua, ela disse que eu TERIA que sair porque ela gosta (?) de fazer a volta com o carro bem onde eu estava, para poder entrar na vaga. Mas gente, não fazia o menor sentido! Inclusive ficaria mais difícil dela estacionar. Além do mais, do jeitinho que ela estava, ela entraria folgadamente na vaga.
Disse tudo isso a ela, que se irritou notadamente. Então ela começou a falar um monte de merda pra mim, em alemão, crente que eu não entenderia nada. Há! Se lascou. Xinguei a véia com toda minha sabedoria alemã das ruas. Até xingamento ridículo, infantil, eu usei. (ouvia as criancinhas do kindergarten chamarem umas às outras de Käse Kopf, que significa Cabeça de Queijo, e adorava! rs). Vi toda a vermelhidão alemã sumir da cara da mulher, que ficou branca que nem cera. No final, ela me chamou de cuzona, em alemão. Morri de rir da cara dela e comecei a bater palmas, bem cínica.
Fui podre? Fui, mas ela mereceu.

Passou

Ah sim, já que vou retomar este blog.
Referente a este post aqui, passou. Foram quase 10 anos, mas passou. Ufa!
Se quiser saber como, pergunte em pvt.

Emocionada


Pouco antes da morte da Elis Regina, em 1982 (estava com 7 anos), aprendi o significado da palavra emoção. Minha mãe explicou que poderíamos ficar emocionados por alegria ou tristeza. Achei estranho, entendi mais ou menos. Então, depois de assistir exaustivamente a repercussão da morte da cantora pela TV naquele dia, comecei a chorar. Minha mãe perguntou por que eu estava chorando e eu respondi: - É porque estou alegre com a morte da Elis Regina.

Criança se confunde, né? Ou eu já era retardada.

26.9.08

Uma declaração de amor diferente.



Quem é meu amigo sabe que eu tenho síndrome do pânico e que sofro muito por isso. Quem é meu amigo ou parente tb sabe que tenho um marido sem igual, um grande orgulho pra mim. Ele me ama e me prova isso todos os dias, como hoje, ao enviar o seguinte e-mail para a maior parte dos nossos parentes e amigos e tb para mim, claro:

"Todos nós temos um desafio na vida, um Golias a vencer, um dragão a derrotar. E quando conseguimos alcançar nosso objetivo, sentimos dentro de nós uma imensa satisfação, a alegria da vitória, da conquista.

Essa alegria vem quando conseguimos defender nossa tese de doutorado, quando salvamos um animal de morrer de fome na rua, quando ganhamos o tão merecido aumento de salário, quando conquistamos a liberdade de poder trabalhar de bermuda e chinelo, quando podemos fazer aquela tão aguardada pescaria com os amigos, quando conseguimos depois de tanta luta comprar o carro dos nossos sonhos, quando o filho tão querido e desejado nasce com saúde, quando vemos o sorriso nos rostos dos netos sujos de chocolate, quando tomamos aquela merecida cerveja gelada após um dia difícil de trabalho.

Infelizmente, por conta de problemas de saúde, a Renata uma vez passou muito mal enquanto atravessava o viaduto Aricanduva e por isso não tinha coragem de atravessar a ponte estaiada que atravessa o rio Pinheiros, pois a altura e a extensão dessa ponte fazia que ela se sentisse mal só de pensar em chegar perto.

Depois da inauguração da ponte, sempre que passávamos pela marginal eu pensava que gostaria de atravessá-la para ver como é que é, coisa boba, só para olhar a marginal de lá de cima e ver os prédios que se amontoam pela Berrini. As vezes comentava isso com a Renata, mas sabia que para ela aquilo era um grande desafio. Eu ficava chateado por ela, principalmente quando ela dizia "combina com o Claudinho e/ou com o Otinho e daí vocês atravessam a ponte...", e sempre dizia que não, que eu só iria atravessar a ponte se fosse com ela.

Pois é, ontem à noite eu experimentei essa alegria que mencionei...

Estávamos voltando da casa do Otinho à noite pela marginal e, sem falar nada, apenas dando uma risadinha marota, a Renata pegou a entrada da ponte e começou a subir para atravessar para o outro lado. Nos primeiros 5 segundos eu não entendi bem o que estava acontecendo e pensei "por que estamos fazendo esse caminho? é tão mais longe por aqui...", mas depois me dei conta que a Renata estava enfrentando seu medo, sua doença, seu Golias, seu dragão.

Começamos a subir e eu abri a janela do carro para olhar lá para baixo. A cada metro que andávamos minha emoção ficava maior e a Renata disse que eu fiquei com cara de criança que anda na roda gigante pela primeira vez. Quando chegamos na parte mais alta, vimos que as luzes da ponte iluminavam tudo com um tom verde muito bonito e relaxante, contrastando com o piscar frenético das torres sinalizadores em cima dos edifícios da marginal e da Berrini. Posso afirmar com toda a certeza do mundo que a marginal do rio Pinheiros nunca esteve tão linda!

Para alguns pode parecer tudo uma grande bobagem. Imagina, ter medo de atravessar uma ponte, que coisa idiota, não? Mas para nós (Sr. Oton, D. Eurides, Otinho, Adri, Dani e eu), que sabemos o quanto isso foi importante para ela (e para nós também, afinal nada mais importante para mim e para eles que a saúde e o bem-estar dela), esse ato "banal" tem um significado muito especial. É como na música Lado B Lado A do Rappa, que fala:

A vitória de um homem às vezes se esconde num gesto forte que só ele pode ver.

Então, por conta dessa vitória, eu escrevi esse e-mail para dar os parabéns a Renata, que num gesto de muita coragem e autoconfiança enfrentou seu medo e venceu, levando como troféu a alegria de que tanto falamos.

Amor, você merece o lugar mais alto no pódio da vida e uma medalha de platina, que é mais rara e valiosa que o ouro. Mas o maior prêmio disso tudo é você poder dizer:

Eu posso!

Amo-te muito! Você é tudo para mim! Obrigado por esse presente.

ps: hoje de madrugada vamos de novo!!! rs"



Preciso dizer que chorei? Não, né? Amo muito esse homem que me faz tão feliz e cada dia mais vitoriosa.

28.7.08

Vai ficar tudo bem



O que será essa coisa que nós, brasileiros, temos de ter esperança sempre?
Será pelos tempos não muito longínquos, quando éramos um país bem mais pobrezinho e insignificante e todos tínhamos que matar 118 leões por dia ao invés de 2 ou 3 como agora?

Eu estou perguntando isso porque muitas vezes me pego - com o perdão da palavra - atolada na merda até a voltinha do lábio inferior e ainda consigo pensar que tudo ficará bem. "Vai passar". "É só uma fase", costumo afirmar para mim mesma.

Será fé? Eu me considero uma pessoa com fé, acredito nisso, mas também acredito que nem sempre a fé faz milagres. Creio que é preciso todo uma conjuntura astral, o momento certo, o merecimento, até mesmo sorte, etc, etc, etc, MAIS a fé, para que algo aconteça de acordo com nossa vontade. Fé purinha, sem outras combinações, só em casos extremos e para aqueles abençoados que têm o telefone direto da mesa de Jesus Cristo.

Será que é a necessidade de continuar em frente? Falta do que dizer? Medo de admitir o pressentimento? Receio de parecer negativo (claro!)? Será porque ouvimos desde pequenos que temos que acreditar? Ou será que é porque somos uns iludidos mesmo, ou até mesmo uns folgados, que se acham especiais? Porque MUITAS vezes NÃO dá certo, NÃO é só uma fase, NÃO melhora, NÃO muda, NÃO acontece; mas mesmo assim a gente continua repetindo tudo aquilo feito disco riscado, no automático?

Eu queria mesmo entender que esperança insana é essa que mesmo quando temos um monte de doenças, estamos desempregados, perdemos coisas e pessoas, adiamos planos que não queríamos adiar, matamos sonhos, e tudo parece estar impossível de resolver, AINDA ASSIM acreditamos piamente que vai ficar tudo bem.

7.7.08

Crise existencial?


Não sei se acredito nisso, mas que estou passando um momento no mínimo questionador, estou.
Tenho achado tudo bem errado na minha vida e, todo dia, tenho mudado alguma coisa. Creio que para melhor.

Tenho questionado minha carreira e tentado melhorá-la;

Tenho pensado muuuuito em calorias, dietas e exercícios e comecei a me mexer. Estou andando (não curto academia) diariamente (até de fim de semana), pegando leve nas refeições e, principalmente, nas besteiras e na Coca-Cola, que é um vício que eu amo;

Estou programada a parar de fumar. A partir do dia 15/07 estarei em tratamento para isso;

Não estou mais deixando para amanhã o que posso fazer hoje;

Tenho acreditado mais em minhas intuições, para deixar de acreditar nas pessoas erradas;

Tenho desconfiado um pouquinho mais de gente, e estou amando cada vez mais os animais...rs;

Mudei bastante meu conceito a respeito da palavra amizade. Agora, amigo não pode me ferrar. Se fizer, não é meu amigo e vai rodar. Perdão é lindo, mas meus sentimentos são mais. Ou: perdoar é uma coisa, esquecer é outra;

Tenho pensando muito mais no futuro. Muito mais mesmo. A ponto de modificar meu presente, minhas atitudes, minha maneira de pensar e agir. Claro que tb estou falando de grana : )

Tenho retirado coisas velhas e inúteis da minha casa. Doado muita coisa. Está me fazendo um bem fora do comum! Semana passada, retirei 4 sacos de 60 litros de roupas que eu e o Lú não usamos mais, e um outro saco só de sapatos. Energia boa em casa é fundamental;

Tenho sido cada vez mais sincera com todo mundo. Sempre de uma forma saudável, na medida do possível;

Tenho namorado mais meu marido;

Tenho procurado ser mais calma, paciente e tolerante;

Tenho cuidado mais da minha saúde física, mental e espiritual.

E, principalmente, tenho voltado a acreditar em mim mesma e no meu potencial. Passei um período bravo de insegurança há alguns meses, que me fizeram ter vontade de largar tudo em que acredito. Mas passou. Que bom!

29.2.08

Tempo


Legal demais essa coisa de auto-conhecimento, né?

Quando de repente nos damos conta de que mudamos, pra melhor, vem uma sensação de dar um passo à frente no caminho da evolução.Pena que muitas vezes tenhamos que sofrer para conseguir isso. É o famoso “quem não vai pelo amor, vai pela dor”. Ô ditado certeiro, meu Deus.

Às vezes, passamos longos períodos da nossa vida num determinado tipo de comportamento que sempre nos traz algo de ruim, de sofrível, de chato ou de irritante. E, mesmo assim, não mudamos. É porque simplesmente não percebemos mesmo. Quantos anos não passamos cegos, nos torturando por algo que muito provavelmente poderíamos mudar com uma simples e bela olhada pra dentro de si?

Eu, por exemplo, levei 30 anos para aprender a dizer não. Trinta. E a custo de MUITO sofrimento, terapia, brigas, constatações, sustos e pontos-finais.

Antes, sofria mas sempre dizia sim, porque sempre queria agradar, sempre queria ver as pessoas felizes, mesmo que para isso eu mesma ficasse bem infeliz. Me sentia sufocada, mas não mudava e nem percebia o quanto me fazia mal. Admito, não foi fácil mudar. E no meu caso, eu mudei pela dor. Me afastei de “amigos”, porque só eu era amiga. Impus novas condições, porque antigas me faziam sofrer. Repensei conceitos, porque até então só afirmava X ou Y por pura mecânica.

Foi fácil? Nem um pouco. Aliás, não está sendo, porque essa mudança ainda não está terminada. Ainda quero aprender muitas coisas relacionadas ao meu eu, à minha espiritualidade. Mas, por enquanto, a única coisa que posso afirmar é que o tempo é o senhor da razão. No momento certo dá um “clic” e simplesmente fazemos o que temos que fazer, mesmo que tenhamos empurrado com a barriga por trinta, cinquenta ou oitenta anos.


Oração ao Tempo

(Caetano Veloso)


És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...


P.S: Foto

8.11.07

Estapafurdices



Lá ia, pela floresta, de iPod no ouvido, Chapeuzinho Vermelho. Em sua mochila, rolos e rolos de notas frescas de dólar. Como sempre, caminhava rumo à casa da Vovó.

No meio do caminho, escondido atrás de um arbusto, à espreita, “Seu” Lobo, funcionário mal-caráter da LBV que adora acordar trabalhadores no sábado de manhã. Tarado por verdinhas, logo sentiu o cheiro do dinheiro que vinha chegando. Quando ouviu Chapeuzinho Vermelho se aproximar, limpou a garganta, ajeitou as orelhas e pulou, dando de cara com a netinha da vovó. Engatou a primeira e disse sem respirar:

- A-lôu, Senhorita Chapeuzinho, muito bom dia! Tudo bem com a senhorita? Espero que sim! Chapeuzinho, estou aqui hoje pra perguntar se a princesa poderá estar colaborando com nosso projeto social infantil para crianças. Me diga, Srta. Chapeuzinho, nossas criancinhas poderão estar contando com o leitinho que a Srta. ajudará a comprar?

Pálida, com os olhos injetados de sangue e ódio, Chapeuzinho responde:

- Chapeuzinho é o caralho, meu nome agora é Chapeleira!

Seguinte, ô Lobão, tô caminhando na paz até a casa da vovó. Todo dia aquela velha desgraçada me faz andar esse carai de floresta inteirinha pra levar o dinheiro do tráfico. Não sei por que a velha tinha que se esconder tão longe! Tô puta, cara! E você me vem com nhé nhé nhé? Sai andando que não tem merda de criancinha, nem porra de leitinho nenhum. Além do mais, a LBV é malandra, e eu detesto malandragem.


p.s: texto adaptado de um que escrevi durante um exercício de pensamento lateral, no curso de Redação Criativa ministrado pelo escritor e redator Henrique Szklo, da Academia de Criatividade. Curso excelente, recomendo a todos, inclusive a quem não é redator.


2.8.07

Deja vú


Eu não tenho lá muita sorte com empregadas. Sempre passo um baita nervoso com elas. Eu, que já não tenho muita paciência, sempre dou o azar de pegar as mais folgadas e comilonas.

A primeira, Dona Olinda, um catatau rechonchudo de pés bizarros, não me dava muito problema em relação a isso, mas na única vez, quase me mata de raiva. Na segunda-feira depois da Páscoa daquele ano, cheguei do trabalho e resolvi abrir o ovo que meus pais tinham me dado. Para minha surpresa, ele já estava aberto e quase no fim. Perguntei pro marido, que também é chegado numa besteira, e ele negou. Fiquei pasma! Em cerca de 6 horas (tempo que ela ficava na minha casa diariamente), ela lavou, aspirou, espanou e comeu 80% do meu ovo de Páscoa alpino (meu predileto) de 750 gramas.

No dia seguinte, quando perguntei, ela começou a chorar. Sim, que legal! Começou a chorar. Uma senhora de quase 60, na época. Fiquei puta, pois percebi que ela fez isso pra eu ficar com dó, já que assim que falei "tudo bem, deixa pra lá", as lágrimas sumiram imediatamente e ela já foi pra cozinha assobiando a mesma música de todo dia.

A próxima, Eliene, limpava muito bem. Bem mesmo. Todo dia eu encontrava a casa cheirosa e brilhante, e ela no quintal, deitada ao sol, com os cabelos cheios de creme, lendo a Caras que eu sempre recebia de graça. Isso mesmo. E não se fazia de rogada não! Já fez isso logo no primeiro dia. Como se isso não bastasse, comecei a perceber que a despensa e o freezer andavam esvaziando muito rápido. Passei a observar.

Ela chegava em casa por volta das 08 da manhã e já abria a geladeira. Tomava umas duas canecas de café com leite, comia todos (inclusive os que porventura eu tivesse comprado para mim) os pães que tivesse e, se fossem poucos, 2 ou 3, ela “arrematava’ com um belo miojo ou um bom prato de arroz, feijão e farofa ou macarrão, dependendo do que eu tivesse feito no jantar da noite anterior. E essa comida, que ela às vezes comia todinha (e não era pouca), era para eu e ela almoçarmos, já que eu trabalhava bem pertinho de casa. Quantas vezes não tive que eu comer um miojo porque o almoço tinha desaparecido...

E seu eu não tivesse feito jantar, ela escolhia qualquer coisa bem gostosa do freezer e preparava. Aquela bela picanha do churrasco do domingo, o peixe que eu pretendia preparar pro sogro no sábado, enfim, o que ela estivesse com vontade. Escolhia o menu e preparava. Claro, eu não gostei e fui falar. Sabe o que eu ouvia? - Ah, eu num posso ficá comeno sanduíche e miojo sempre que você não faiz janta.

Gente, eu não regulo comida. Alguns talvez pensem que ela era uma coitada, que talvez não tivesse comida em casa, que eu não tenho coração, etc e tal. Mas além de eu saber que não era essa a realidade, nada justifica ela comer tudo o que tem na minha casa e não deixar comida pra gente. Eliene realmente exagerava. Comia nossos iogurtes, chocolates, o último pedaço de bolo, qualquer coisa, como se não houvesse amanhã! Me tirava do sério diariamente.

Agora, tenho uma nova, a Elaine. Boazinha, coitada. Está comigo há 45 dias. Quando percebi que ela não comia nada, perguntei e ela respondeu que fazia dieta e preferia comer em casa, onde toma café da manhã e prepara salada e hamburgui (sic) frito (!!) quando chega. Tudo bem, pensei eu, ela chega às 09:00 e vai embora às 14:00, dá pra aguentar. Azar dela se não quer comer.

Só que, de repente, de uns 10 dias pra cá, acho que ela largou a dieta à base de saladas e frituras e passou para uma a base de chocolate e refrigerante. Do nada, passou a tomar quase um litro de leite com Toddy, comer bolachas de chocolate, cookies e abrir os refrigerantes da geladeira, tomando cerca de um litro por dia (de 5 horas) e, ainda por cima, deixando mal fechado, para não ter um milímetro de gás na hora que quisermos. Até aí, nada tããão grave assim. Relevei e só pedi para ela fechar direito o refrigerante e pronto. Só que quando foi hoje, na hora do almoço, fui seca atrás do macarrão com almôndegas que eu tinha preparado e que estava delicioso. Tinha sobrado bastante, não comemos muito no jantar de ontem. Cheguei lá e, surpresa! Tinha um pote na geladeira com uns 10 fios de espaguete e outro pote com um pouco de molho...sem nenhuma almôndega.

Eu já sei o fim dessa história.

27.7.07

Zica


Eu tenho uma calça preferida. Reta, preta, com vincos lindos. Ela é razoavelmente nova, comprei há 5 meses. Sabe aquela peça que você bate o olho e quer? Ainda tive a sorte de pegar uma liquidação, então paguei um preço bem bom por ela. Mas acontece que a calça veio com ebó*.


Na primeira vez que usei, fui fechar o botão e quebrei a unha quase na raiz. Fiquei puta, minha unha estava linda, mas ok.


Logo depois, perto do dia das mães, estava no shopping, toda esbaforida porque não achava o presente ideal, quando voei. É, voei. E caí de joelhos no chão. Resultado? Uma boa esfolada na calça (sem falar no joelho em si), além de uma vergonha sem fim, porque além de tudo, caí dentro do estacionamento VIP do shopping, onde imperavam madames e manobristas. Mas tudo bem, ainda dava pra usar a calça.


Daí, quando foi sexta-feira passada, eu podre, voltando do médico de táxi porque meu carro estava com dois (!) pneus furados, enfio o pé no cinto de segurança na hora de sair e...caio. De novo. Dessa vez, de quatro, numa calçada repleta de restos de verdura velha da feira de 2 dias antes (pensou no cheiro e na textura?) e, pior, exatamente na frente do Seu GPS, o vizinho velho e manco que eu ODEIO. Imagina a minha cara? Fora a dor, nos joelhos e na alma. A calça? Outra boa estragada, dessa vez na outra perna.


Então, hoje, estou eu explicando para a empregada que os vincos da calça não são para serem tirados na hora de passar, e sim refeitos, quando deixo cair o cigarro aceso no chão. Ela, muito solícita, abaixa para pegar e, num impulso, solta a calça. Claro, em cima do cigarro. Agora, além de tudo, a calça tem dois belos furos redondinhos, do tamanho da brasa do maldito cigarro. Pensam que eu desisti? Não! Afinal de contas, os furos ficaram bem perto da cintura, onde a blusa vai esconder, e eu amo a minha calça!

* ebó = macumba, trabalho, mandinga.

21.6.07

Das coisas guardadas aqui dentro

Desejo um dia frio com sol fraquinho

Desejo um abraço gostoso

Desejo ser uma pessoa melhor

Uma profissional melhor, uma amiga melhor.

Melhor.


Desejo um filho. Um não, dois.


Desejo que nosso amor se reacenda a cada dia.

Desejo estar sempre com você.


Desejo bolinhos de chuva feitos pela minha mãe.

Para acompanhar, um café feito pelo meu pai.


Desejo brincar mais com meu cãozinho.

Jogar bolinha até eu cansar. Afinal, ele não cansa.


Desejo sentar sem nada pra fazer.

Desejo tomar champagne sem motivo.

Desejo sentir aquele friozinho na barriga. De amor, não de medo.


Desejo respeito.

Desejo amor (mais) e valor.

Desejo ser desejada.


Desejo calma.

Desejo fogo.

Desejo água gelada e mãos quentes.



Corpo fechado.



Desejo ir para frente, sempre.

Desejo que você vá comigo.


Desejo estar em paz.

Comigo, com minhas lembranças, com minha vida, com tudo ao meu redor.


Desejo que a dor aprenda a desviar de mim.

Desejo ser menos ansiosa, mais intuitiva.

Desejo fluidez.


Desejo desejos simples, pequenos, na maior parte das vezes.

Mas hoje desejei tudo, e não consegui (quase) nada.

Então, desejo dias melhores.

Amanhã, logo cedo, em breve, urgente.